Seminário sobre a adaptação de obras literárias para o cinema, realizado em novembro de 1997, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), que teve como objeto de discussão seis clássicos da Literatura Brasileira que foram transformados em seis obras-primas do Cinema Nacional. Após a exibição dos filmes, diretores, professores universitários e intelectuais ligados às obras debatiam com o público as relações entre o que tinha sido visto na tela e o conteúdo dos romances. Estes debates foram perenizados com a série de vídeos Um Olho no Livro, Outro na Tela.
Prisioneiro do Estado Novo, Graciliano Ramos escreve e publica o conto "Baleia" em 1936. Já em liberdade, incentivado por amigos a escrever mais contos como aquele, publica em 1938, o romance "Vidas Secas", que tem como peculiaridade uma estrutura de blocos independentes, quase como um livro de contos. A tarefa de Nelson Pereira dos Santos foi transformar essa estrutura em um filme fluente e dramaticamente compacto (1962). Ao fazer a adaptação, o diretor trai o original para melhor lhe ser fiel.
Debatedores: Nélson Pereira dos Santos, Ivana Bentes e Ítalo Moriconi.
Considerado um conto-chave na obra de Guimarães Rosa, "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" estabelece e condensa o estilo narrativo que o autor vai desenvolver em toda a sua obra posterior. Publicado no livro Sagarana, em 1946, o conto antecipa também o tema central de sua obra máxima, Grande Sertão: Veredas. Roberto Santos, oito anos após sua estréia como diretor com o Grande Momento, causa grande impacto com o seu "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", em 1966. A sensibilidade e contundência dessa adaptação recriam com segurança o universo mítico do sertão de Guimarães Rosa.
Debatedores: Karl Erik Schollhammer e Eduardo Coutinho.
Mário de Andrade, modernista, passada a Semana de 22, e acumulando experiência de reflexão sobre a identidade nacional, escreve o "romance-rapsódia" Macunaíma de um jorro só, em 1926, após conceber, mastigar e ruminar suas pesquisas e idéias de brasilidade. Joaquim Pedro de Andrade, no final dos anos 60, época de mais uma das expansões qualitativas da arte brasileira, mergulha no pensamento de Mário de Andrade e no Brasil do seu presente, e apresenta o seu Macunaíma (1969): Cinema Novo em cores vivas.
Debatedores: José Louzeiro, Beatriz Resende e João Cézar de Castro Rocha.
De Humberto Mauro a Lima Barreto; deste para Walter Lima Jr.: esse foi o atribulado percurso do roteiro e do projeto de filmar Inocência. Realizado por Walter Lima Jr. 1983, o filme parte de um expoente do Romantismo Brasileiro: Inocência, de Visconde de Taunay (1872). Embora mantenha algumas indicações dos dois roteiros anteriores, Walter Lima Jr. compõe seu filme a partir de uma delicada reconstituição da geografia do interior do Brasil, do imaginário da época e da "geografia de sentimentos" dos personagens do romance.
Debatedores: Walter Lima Jr., Guillermo Giucci e Gustavo Bernardo.
A primeira vez que Suzana Amaral leu A Hora da Estrela, viu na personagem principal, Macabéa, "a cara do Brasil". Foi o olhar que uma nordestina lançou sobre Clarice Lispector, quando passeava pela Feira de São Cristovão, que a impulsionou para escrever A Hora da Estrela (1977). Do romance auto-reflexivo, de prosa em camadas e dominado por um personagem-escritor-narrador poderoso, Suzana Amaral tomou a história de Macabéa e a recriou em imagens. O Filme A Hora da Estrela, de 1985, não se assemelha ao romance em sua estrutura narrativa, mas sim em força e vigor.
Debatedores: Suzana Amaral, Denise Bandeira e Ivo Barbieri.
Recusando com veemência as adaptações que filmam apenas o entrecho de um romance, Julio Bressane empreende no seu Brás Cubas (1985) uma seleção afetiva de capítulos/imagens do monumental "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis (1880). O Pacto de fidelidade é feito com o espírito da obra de Machado de Assis; a preocupação é mais com o "como" narrar e menos com o "que" narrar..
Debatedores: Júlio Bressane.
Idealização e Produção: Lara Valentina Pozzobon
Realização: Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ