Nos países da Europa Ocidental, a expulsão de um imigrante ilegal custa quase três mil euros ao Estado. Só o governo espanhol gasta cerca de 15 milhões de euros por ano para deportar estrangeiros. A mídia repete estes e outros números como se assim traduzissem a realidade. No mundo desenvolvido, as estatísticas valorizam o lado econômico, incitam preconceitos e encobrem as tragédias por trás da pro-blemática da imigração: epidemias, conflitos, o abandono da África depois de séculos de exploração colonial, tráfico de pessoas, escravidão, intolerância racial.
Imigração não se resume com números, portanto. Se a cobertura da mídia tende a ser unidimensional, o cinema oferece outros pontos de vista. Uma parte significativa da produção atual promove uma reflexão aprofundada sobre os temas que envolvem a imigração, quase sempre com espírito reconciliador. Para isso, cineastas de diferentes cantos do planeta se servem do enfoque humanista. Em vez de repetir estatísticas, eles dão voz a pessoas. A mostra Clandestina Liberdade amplia a discussão por meio de 14 longas-metragens.
Os títulos escalados partem da disposição de estimular a convivência entre os povos e de questionar supostas diferenças. A busca pela harmonia social permeia Assédio, de Bernardo Bertolucci. E se Theo Angelopoulos adota tom poético em Paisagem na Neblina, Michael Haneke destaca em Código Desconhecido os pontos que inviabilizam o ideal de unificação européia. Assim, o público terá acesso a alguns dos cineastas mais instigantes do cenário contemporâneo.
Além de revelarem problemas concretos, de embates culturais até a xenofobia, os filmes trazem à tona outro aspecto característico da discussão sobre a imigração: o movimento migratório, que atende a todos os preceitos da aventura clássica. Logo, alguns filmes de estrada se destacam na programação. Assim é Neste Mundo, no qual Michael Winterbottom segue dois afegãos rumo a Londres. Já em Exílios, Tony Gatlif acompanha casal que faz a rota inversa de seus antepassados. Em busca de algo que os defina como gente, Zano e Naïma deixam a França para conhecerem a Argélia.
Com tudo isso, espera-se conscientizar platéias em torno de questões proeminentes. Trata-se de uma iniciativa oportuna, agora que o racismo volta a ser debatido com o aumento de casos diversos – como os distúrbios na periferia de Paris e das principais cidades francesas, em novembro de 2005. O problema cresce nesta era globalizada, em que as fronteiras são derrubadas e os povos são estimulados a conviverem, mas não necessariamente a superarem o receio, o preconceito e o ódio.
Gustavo Galvão
Cineasta
Beautiful People, Jasmin Dizdar, Grã-Bretanha, 1999, 107 min.
Assédio, Bernardo Bertolucci, Itália, 1998, 93 min.
Exílios, Tony Gatlif, França, 2004, 104 min.
Balseros, Carlos Bosch e Josep María Domènech, Espanha, 2002, 120 min.
Neste Mundo, Michael Winterbottom, Grã-Bretanha, 2003, 88 min.
Pão e Rosas, Ken Loach, Grã-Bretanha, 2000, 110 min.
Paisagem na Neblina, Theo Angelopoulos, Grécia, 1988, 127 min.
Balseros, Carlos Bosch e Josep María Domènech, Espanha, 2002, 120 min.
Um Herói de Nosso Tempo, Radu Mihaileanu, França/Israel, 2005, 140 min.
Contra a Parede, Fatih Akin, Alemanha/Turquia, 2004, 121 min.
Código Desconhecido, Michael Haneke, França, 2000, 118 min.
A Pequena Jerusalém, Karin Albou, França, 2005, 96 min.
Assédio, Bernardo Bertolucci, Itália, 1998, 93 min.
Paisagem na Neblina, Theo Angelopoulos, Grécia, 1988, 127 min.
Contra a Parede, Fatih Akin, Alemanha/Turquia, 2004, 121 min.
A Promessa, Luc e Jean-Pierre Dardenne, Bélgica, 1996, 90 min.
Djomeh, Hassan Yektapanah, Irã, 2000, 98 min.
A Grande Viagem, Ismaël Ferroukhi, França/Marrocos, 2004, 108 min.
Pão e Rosas, Ken Loach, Grã-Bretanha, 2000, 110 min.
A Grande Viagem, Ismaël Ferroukhi, França/Marrocos, 2004, 108 min.
Código Desconhecido, Michael Haneke, França, 2000, 118 min.
A Pequena Jerusalém, Karin Albou, França, 2005, 96 min.
Beautiful People, Jasmin Dizdar, Grã-Bretanha, 1999, 107 min.
Um Herói de Nosso Tempo, Radu Mihaileanu, França/Israel, 2005, 140 min.
A Promessa, Luc e Jean-Pierre Dardenne, Bélgica, 1996, 90 min.
Djomeh, Hassan Yektapanah, Irã, 2000, 98 min.
Exílios, Tony Gatlif, França, 2004, 104 min.
Neste Mundo, Michael Winterbottom, Grã-Bretanha, 2003, 88 min.
Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Concepção e curadoria: Gustavo Galvão www.gustavogalvao.com
Produção: Lavoro Produções Artísticas www.lavoroproducoes.com.br
Produção executiva: Lara Pozzobon
Assistentes de produção: Maria Gabriela Ramos, Simone Evan
Edição do livreto: Gustavo GalvãoTextos: Gustavo Galvão
Revisão de textos: Daniele Sousa e Silva
Assessoria de imprensa: ProCultura/F&M
Direção de arte, design e ilustrações: Glauco Diógenes www.glaucodiogenes.com.br
Apoio: Gráfica Panorama
Fotos de divulgação: Art Films, Califórnia Filmes, Consulado da Bélgica, Embaixada da Espanha, Europa Filmes, Filmes do Estação, Imovision, Mais Filmes e Pandora Filmes
Agradecimentos: Ana Castro, Dulce Vivas, Elias Oliveira, Francisco Gomez Duran, Jean-Thomas Bernardini, Juan Villar Escudero, Ricardo Landim e Suely Monteiro